Wednesday, May 2, 2007

O HOMEM SELVAGEM


Exposição de Ilustração "Homem Selvagem" na Galeria Cozinha da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, entre os dias 7 e 31 de Maio.

Partindo de um texto sobre o "Do Mito do Homem Selvagem" e as suas diversas representações na História de Arte de Maria José Goulão foi proposto a um conjunto de ilustradores nacionais e estrangeiros a realização de uma ilustração.

Esta exposição será o ponto de partida para uma série de eventos futuros dedicados à Ilustração e os seus processos de actuação. Pretendesse que este evento inicie uma série de plataformas que possibilitem a exposição, reflexão e divulgação do trabalho dos ilustradores, tornando visível uma área em desenvolvimento não só no seio da instituição, mas também nos contextos nacionais e internacionais.

Resumo
A representação do Outro civilizacional na arte europeia anterior à época dos Descobrimentos radica não na experiência do real, mas sim em imagens mentais que se constituem como um repositório cultural inesgotável, de remotíssimas origens. Encontramos na arte medieval um "mundo paralelo" de seres fantásticos, um verdadeiro discurso visual sobre a alteridade, que parece ignorar a realidade, privilegiando antes uma visão distorcida, baseada no relato fantasiado e na representação. Em Portugal, bem como por toda a Europa, o tema do homem selvagem, ser primitivo, herético e irracional, exemplificador da ausência de civilização, surge frequentemente na criação artística. A sua interpretação iconográfica é complexa, e reveladora da progressiva sobreposição do imaginário ao real. Esta imagem simbólica, que não foi uma criação portuguesa, mas antes uma tendência importada, acabou por se mostrar particularmente ajustada às necessidades oníricas e míticas da mentalidade nacional.
O tema do homem selvagem funcionou como um mito, ocupando um lugar destacado no imaginário medieval como amostra de um ”mundo às avessas”, objecto de sentimentos antitéticos de repulsa e de sedução. Preencheu sem dúvida um espaço importante no universo ambíguo do maravilhoso e do desconhecido. Enquanto símbolo, remete para a imagem ao espelho do homem medieval, representando todo um conjunto de pulsões recalcadas e funcionando ora como elemento moralizador, por contraposição, ora como escape de tensões de vária ordem, por afirmação. A sua origem literária parece clara, bem como a sua relação com as forças brutas da natureza, e, logo, com a não-civilização, em contraste declarado com a ordem do universo medieval.
Ligado, na imaginação medieval, à concepção do Outro civilizacional, o homem selvagem representou também, através de um processo de interiorização, o Outro que existe em cada homem.

Maria José Goulão

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